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Língua de Sinais neste Blog irá mostrar que não é nada estático e definido matematicamente, pois sofre influências culturais, sociais e regionais como qualquer outra língua. E que o respeito por um cidadão Deficiente Auditivo, é querer que o mesmo faça parte da nação, sendo assim um indivíduo atuante e capaz de exercer a sua profissão.

" A LEITURA DO MUNDO PRECEDE A LEITURA DA PALAVRA" Paulo Freire

terça-feira, 24 de maio de 2011

Comparação entre a estrutura do Português e Libras.

         A Libras e a Língua Portuguesa possuem complementos e núcleos, mas estruturas diferentes, por exemplo, em português: Eu vou passear com meu namorado. Em Libras: clique aqui para ver o vídeo os sinais são produzidos simultaneamente com expressões faciais, tornando a língua de sinais tão rica e complexa quanto qualquer língua oral.
        Por que a ordem dos sinais não é a mesma ordem das palavras do português? Quando os sinais seguem a mesma ordem do português, dizemos que a pessoa usou o português sinalizado. No entanto, o português sinalizado não é adequado para a comunicação nem para o ensino. Imagine você, usuário de língua portuguesa, esbarra a sentença que tenha sido dessa maneira: “Do you have filhos?” Entenderia rapidamente? Certamente levaria mais tempo para compreendê-la do que a de língua natural.
      A Libras para os surdos é fundamental assim como o Tupi é importante para tribos indígenas, e os índios utilizam o português escrito para comunicar-se com outros e entre eles utilizam sua própria língua.
        A relação do surdo com a língua de sinais é a mesma do ouvinte com a língua oral, ele não tem consciência das estruturas gramaticais de sua língua, mas as usa corretamente e adquire fluência sem esforço.
      As línguas de sinais distinguem-se das línguas orais porque se utilizam de um meio ou canal viso-espacial e não oral auditivo.
           Ressalto que a Libras é língua natural para surdos.


As línguas naturais têm a importante função de suporte do pensamento, função esta freqüentemente ignorada por especialistas envolvidos na educação do surdo que consideram a língua apenas como meio de comunicação.(...) As Línguas de sinais, por serem naturais e de fácil acesso para os surdos, são extremamente importantes para o preenchimento da função cognitiva e suporte do pensamento. (BRITO, 1993, p. 4)


Fonte: Texto extraído do Curso de Graduação em Pedagogia-Licenciatura/Modalidade a Distância - UFGRS.

Os sinais se formam a partir da combinação do movimento das mãos através de configurações de mão.

(Quadros e Karnopp, 2004, p. 51)



Este sinal é ‘copo’, possui a configuração de mão se usa o movimento e o sinal tem de estar na locação de boca. Assim todos os parâmetros formam um sinal que significa copo.
       Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinados pontos (locações) neste espaço. A combinação destas unidades menores sem significado pode formar as palavras na língua de sinais. Ao combiná-las, podemos identificar quais são realmente relevantes na língua de sinais, assim identificamos os “fonemas” da língua de sinais.

         Identificam-se as configurações de mão, as locações e os movimentos que têm um caráter distintivo. Isso pode ser feito comparando-se pares de sinais que são minimamente diferentes. Os parâmetros fonológicos estão ilustrados na figura a seguir, em que se observa que o contraste de apenas um dos parâmetros provoca diferença no significado dos sinais.


Pares de sinais que são minimamente diferentes
(Quadros e Karnopp, 2004, p. 52)

No próximo Post veremos mais sobre a configuração de mãos ...

ESTUDOS LINGÜISTICOS EM LIBRAS.

        A língua possui um conjunto de palavras (vocabulário), além de suas regras gramaticais. Tratando-se de linguagem, significa que cada ser humano possui capacidade própria que o permite expressar seu pensamento através de uma língua.
        A lingüística é a teoria que estuda a linguagem e as línguas, sua estrutura e suas funções. Com base em descrições e explicações da teoria lingüística, mas com base nela, pode-se entender o que é linguagem e língua.
       É importante para professores entenderem e diferenciarem a linguagem e a língua, pois o modo como se concebe a natureza fundamental da língua, altera em muito o modo como se estrutura o trabalho com a língua em sala de aula.
        A concepção de linguagem é tão importante quanto a postura que se tem relativamente à educação. O autor Travaglia (2001, p. 21) fala que há três possibilidades distintas de gerar a linguagem: primeiro vê a linguagem como “expressão do pensamento”, isto é, que pessoas não se expressam bem porque não pensam bem. Então diz que “a expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução”. Para ele “a enunciação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece”. Por isso os sujeitos surdos, além de adquirir a sua língua materna (Libras), são capazes de enunciar individualmente.
        A segunda possibilidade é a linguagem como instrumento de comunicação, como meio objetivo para a comunicação. Nessa concepção a língua é vista como um código, ou seja, como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor. A teoria de Saussure enfatiza o caráter social da língua em que a língua é um objeto social em que os indivíduos a criam, produzem, compreendem e desenvolvem entre si. Para Chomsky, a língua é um objeto de estudo mental, pois a língua está associada à faculdade da linguagem, que é inata, ou seja, todos os indivíduos nascem dotados dela.
      Segundo Travaglia, (2001, p 23) “A linguagem é, pois um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico”.
         Por esta razão, os usuários da língua ou interlocutores interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e “falam” e “ouvem” desses lugares de acordo com formações discursivas que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais. Se a comunicação se dá pelo uso de fala e audição, então os surdos também falam e ouvem, porém falam com as mãos e ouvem com os olhos.
       Pelas concepções apresentadas acima é possível perceber que a universalidade da linguagem “não é apenas invenção cultural qualquer, mas o produto de um instinto humano específico” (PINKER, 2002).
        A língua é também um fenômeno eminentemente social. As línguas emergem sempre que dois seres humanos entram em contato. Um exemplo recente de nascimento de um língua ocorreu na Nicarágua, na América Central. Antes de 1970, não havia comunidade surda na Nicarágua. (PETTER, 2002) Os surdos viviam isolados uns dos outros, e se comunicavam com ouvintes por meio de sinais caseiros e gestos. Não havia uma língua de sinais nicaragüense, até que os surdos se encontraram e surgiu a partir daí uma língua de sinais nicaragüense.
       As pessoas confundem língua com linguagem, mas os surdos possuem uma língua, como estudos da área da lingüística, desde a década de 60, compravam. Os surdos possuem uma língua, uma cultura, questões históricas as quais merecem ser consideradas e estudadas por todos nós. É um erro comum dizer: "linguagem de sinais". O correto é língua de sinais, do mesmo modo que não se diz “linguagem portuguesa” ou “linguagem alemã”, mas sim língua portuguesa e língua alemã. Assim a
Lei Federal n° 10.436 de 24 de abril de 2002, traz oficialmente a Libras como Língua e isto é um grande passo para a comunidade surda. Esboço apenas o artigo primeiro desta lei:
Art. 1º - É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único - Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual - motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (LEGISLAÇÃO FEDERAL)
       A Libras não pode ser estudada através do português, porque ela tem uma gramática própria, diferente da gramática portuguesa. As línguas de sinais são sistemas lingüísticos que passaram de geração em geração de pessoas surdas. São línguas que não se derivaram das línguas orais, mas fluíram de uma necessidade natural de comunicação entre pessoas que não utilizam o canal auditivo-oral, mas o canal espaço-visual como modalidade lingüística. As pessoas surdas podem aprender a ler português sem aprender a pronunciá-lo, da mesma forma que aprendemos língua estrangeira escrita sem saber pronunciar suas palavras.
        Retomando a reflexão feita sobre língua e linguagem, pode-se dizer que a Libras é uma língua materna para pessoas surdas que permite trabalhar com expressão de pensamento em linguagem, inclusive possibilitando a comunicação com seus atos lingüísticos e ainda como processo de interação.
        Quem pesquisou primeiramente a língua de sinais e comprovou que ela possui uma gramática foi William Stokoe, que era um lingüista escocês que vivia e trabalhava nos Estados Unidos. Em 1955, ele se tornou professor do Departamento de Inglês do Gallaudet College, hoje conhecido como Gallaudet University, uma universidade para surdos. Nessa época, ele não sabia nada de ASL (Língua de Sinais Americana). Ele teve que aprender alguns sinais ao mesmo tempo em que dava suas aulas em inglês, como a maioria dos outros professores. Nessa época, nem na Gallaudet havia aulas de ASL, pelo simples fato de que ninguém, nem mesmo os surdos consideravam a sinalização uma língua natural. Stokoe não demorou a perceber que existia uma diferença entre a sinalização que ocorria quando um surdo se comunicava com outro, e a que ele usava como acompanhamento de palavras em inglês, durante suas aulas. A partir daí, ele começou a observar cuidadosamente a sinalização usada pelos surdos e demonstrou que aquela sinalização era parte de uma língua autônoma, que seguia uma gramática própria. Stokoe, um ouvinte, que não sabia língua de sinais, descobriu a riqueza dos gestos e percebeu que nela havia uma gramática, e através das suas descrições, deu início a uma revolução nos estudos lingüísticos, mostrando para todo mundo que as línguas de sinais, são línguas naturais. Estes estudos exerceram e ainda exercem fortes influências nas pesquisas lingüísticas do Brasil e do mundo.

Fonte: Texto extraído do Curso de Graduação em Pedagogia-Licenciatura/Modalidade a Distância - UFGRS.

Diferentes olhares com relação aos sujeitos surdos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pedagogia Surda.

    De acordo com Skliar (1999), os Estudos Surdos, que defendem uma Pedagogia Surda, se constituem enquanto um programa de pesquisa em educação, onde as identidades, as línguas, os projetos educacionais, a história, a arte, as comunidades e as culturas surdas, são focalizados e entendidos a partir da diferença, a partir do seu reconhecimento político. Nessa perspectiva, o surdo é reconhecido como um sujeito completo e não como um sujeito deficiente, a quem falta algo. Ainda que não seja desconsiderada a ausência ou deficiência do sentido da audição, a Pedagogia Surda não valoriza aquilo que falta, mas a cultura visual dos surdos em suas práticas. No entanto, durante muitos anos, houve a tentativa de normalizar os surdos com práticas oralistas que tentaram aproximá-los dos ouvintes. Mas essa tentativa sofreu resistência por parte do povo surdo, que lutou pelo reconhecimento de sua língua própria, a Língua de Sinais.
     Porém, ainda hoje, no ambiente escolar, o surdo sofre por apresentar uma escrita “estrangeira” quando escreve em português já que, em muitos casos, é influenciada pela estrutura da Língua de Sinais. Em muitos casos, quando o professor não entende sua escrita, o aluno surdo pode sofrer preconceito, recebendo até mesmo rótulos relativos à falta de interesse, bem como, alguns professores enfatizam que os alunos surdos possuem dificuldades de aprendizagem etc.  
      Quando o professor ouvinte sabe Língua de Sinais, pode comunicar-se de maneira satisfatória com seu aluno surdo. Porém, quando o professor também é surdo, além da mesma comunicação, ambos possuem identidade surda, o que contribui para uma harmonia ainda melhor entre professor-aluno. Nesses casos, a sala de aula passa a ser um lugar de ricas trocas de conhecimentos entre ambos, as quais ocorrem de forma natural, além de o aluno encontrar na figura do professor um modelo de adulto surdo. A presença do professor surdo em sala de aula recebe ainda maior importância quando, muitas vezes, em suas casas, os alunos surdos não possuem uma boa comunicação com sua família devido à barreira da língua. O professor surdo, além de um líder para o aluno surdo, representa uma perspectiva para o seu próprio futuro. Por essa razão, muitos educadores hoje defendem a educação bilíngüe e a importância de que as crianças surdas iniciem sua escolarização junto a outros colegas surdos e com professores que saibam a língua de sinais, preferencialmente surdos, pois além de usuários naturais da língua de sinais, eles são referenciais significativos para a constituição de identidades que se reconheçam como diferentes, não como deficientes e inferiores aos ouvintes.        A introdução da Língua de Sinais no currículo de escolas para surdos, a partir da metade dos anos de 1990, é um indício e um começo de demonstração de respeito à diferença surda. É desejo dos surdos que as escolas respeitem a língua e a cultura surda e os preparem para o mercado de trabalho e meio social, que os professores trabalhem e desenvolvam em aula fatos culturais próprios dos surdos, tendo por base a Língua de Sinais.
Porém, se pensarmos na atual educação de surdos, veremos que, mesmo após os redimensionamentos provocados pelas lutas surdas, o baixo índice de participação dos surdos no ensino médio e menor ainda no ensino superior, assim como o baixo nível salarial de muitos surdos, dentre outras conseqüências, comprova-se que essa educação ainda necessita de mudanças, no sentido de garantir aos alunos uma educação de qualidade.       A luta pela inclusão educacional é questionada por muitos surdos devido a estes permanecerem sob o poder de professores ouvintes, dentre os quais, muitos não possuem o domínio da Língua de Sinais. Surge então uma exclusão no que se refere à efetiva participação e autonomia do aluno surdo em aula, mascarada pelo conceito de inclusão (MOURA, 2000).
     No Brasil, existem poucas escolas de surdos que trabalham em uma perspectiva cultural que reconheça e valorize a diferença surda como propõe a Pedagogia Surda; porém muitas escolas usam Bilingüismo. No caso das escolas inclusivas, faz-se necessário a existência da LIBRAS em sala de aula, bem como a criação de espaços para os surdos desenvolverem sua identidade e cultura. O documento “A Educação que nós surdos queremos”, elaborado a partir da união da comunidade surda pela luta por uma melhor educação, no ano de 1999, durante o pré-congresso que antecedeu o V Congresso Latino-americano de Educação Bilíngue para Surdos apresenta vários tópicos importantes relativos à educação de surdos, dentre eles: “propor o fim da política de inclusão-integração escolar, pois ela trata o surdo como deficiente e, por outro lado, leva ao fechamento de escolas de surdos e/ou ao abandono do processo educacional pelo aluno surdo”. Embora existam poucos registros, houve, na década de 20, a abertura de várias escolas de surdos em Porto Alegre e cidades do interior do Rio Grande do Sul. Atualmente, a maioria das escolas de surdos usa Língua de Sinais no Rio Grande do Sul. Todas as escolas de surdos têm alguns professores surdos em seu quadro, o que é muito importante, pois traz o modelo surdo para as crianças e jovens surdos. Mas, a maioria dos professores ainda são ouvintes, e poucos sabem LIBRAS, o que prejudica a aprendizagem dos alunos surdos e dificulta que esses alunos alcancem outros níveis no futuro, como um curso universitário.  
       Atualmente está crescendo o número de surdos estudando na universidade. Já faz uns 15 anos que os surdos começaram a estudar na universidade em nosso Estado. Os que entraram na universidade lutaram pelo direito de terem intérpretes em suas aulas e conseguiram. A maioria dos surdos tem escolhido o curso Pedagogia, Educação Física ou outras licenciaturas, pelo acesso ao mercado do trabalho e pela possibilidade de serem professores em escolas de surdos. Nos últimos anos, várias escolas de surdos contrataram professores surdos. Existe a disciplina Língua de Sinais nas escolas de surdos.
     As escolas de ouvintes têm ensino Língua Portuguesa e para que serve? Para desenvolver diferentes possibilidades de explorar a língua portuguesa. Conhecer suas variantes, adequar o uso ao contexto, desenvolver a escrita e assim por diante. Do mesmo modo, os surdos necessitam do ensino da (e na) Língua de Sinais. Além do ensino da Língua de Sinais, os surdos precisam ter conhecimento sobre os acontecimentos que envolvem as comunidades surdas. Os ouvintes têm uma vida fora de casa e da escola, na sociedade, com muitas informações, que são transmitidas pela família ouvinte, pela mídia, etc. Mas onde os surdos podem construir a identidade e perspectiva Surda? A disciplina de LIBRAS pode ser esse espaço.  
      Há também surdos que se formaram no curso de Informática e hoje trabalham em empresas de informática, mas alguns trabalham como professores de informática na escola de surdos.  
      Na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), alguns surdos começaram a estudar em Cursos de Pós-Graduação no ano de 1998, concluindo o curso de mestrado e doutorado. Atualmente já temos no Brasil alguns surdos mestres e doutores formados principalmente na UFRGS e na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). A maioria desses surdos escolhe pesquisar sobre a educação de surdos, mostrando a capacidade dos surdos.
      Muitos desses surdos mestres e doutores estão trabalhando em instituições de ensino superior, pois a disciplina de LIBRAS se tornou obrigatória nos cursos de licenciatura com o Decreto 5626/2005.
       Em 2006 foi criado o curso de graduação em Letras-Libras, na modalidade de ensino à distância, que forma profissionais licenciados para atuação no ensino de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para alunos surdos e ouvintes. O curso foi proposto pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com várias universidades públicas envolvidas (pólos). Em 2008, iniciou a segunda turma e o curso tem atualmente 15 pólos, abrangendo licenciatura e bacharelado (esse último forma profissionais intérpretes de LIBRAS). Esse curso é na modalidade à distância, com alguns encontros presenciais, mas algumas universidades estão criando o curso na modalidade presencial.

Mais informações, consultar o site www.libras.ufsc.br 

Inclusão.

       Vocês sabem como começou a política de inclusão de surdos nas escolas de ouvintes? No ano de 1994, os representantes de mais de oitenta países se reúnem na Espanha e assinam a Declaração de Salamanca, um dos mais importantes documentos de compromisso de garantia de direitos educacionais. Este documento declara as escolas regulares inclusivas como o meio mais eficaz de combate à discriminação e ordena que as escolas devam acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou lingüísticas. A política evidenciada na Declaração de Salamanca foi adotada na maioria dos países e na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei nº 9394/96).      Muitos especialistas defendem a inclusão dos alunos surdos desde o início da sua escolarização em escolas de ouvintes, mas as conseqüências deste processo têm contribuindo para a frustração educacional de muitos sujeitos surdos quando não é respeitado o direito que as crianças surdas têm de aprenderem a língua de sinais.       Vemos muitos sujeitos surdos concluírem o Ensino Médio sem saber escrever sequer um bilhete. Para a inclusão dos surdos nas escolas de ouvintes, é necessário que as mesmas se preparem para oferecer a esses alunos os conteúdos pela língua de sinais, através de recursos visuais, tais como figuras, língua portuguesa escrita e leitura, a fim de desenvolver nos alunos a memória visual e o hábito de leitura; que recebam apoio de professor especialista conhecedor de língua de sinais e que tenham intérpretes de língua de sinais nas aulas, após os alunos surdos terem adquirido a Língua de Sinais, para um maior acompanhamento das atividades e acesso ao conhecimento. Outra possibilidade é contar com a ajuda de professores surdos, que auxiliem o professor regente e trabalhem com a língua de sinais nas escolas. O Brasil necessita perceber o sujeito surdo como um sujeito que tem uma diferença lingüística e cultural.


Adaptado: PERLIN, Gládis; STROBEL, Karin. Fundamentos da Educação de Surdos, 2008.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Introdução ao Estudo de Libras.

Muitas pessoas acreditam que a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é o português nas mãos, na qual os sinais substituem as palavras. Outras pensam que é linguagem como a linguagem das abelhas ou do corpo. Muitas pensam que são somente gestos iguais ao das línguas orais. Entre as pessoas que acreditam que é uma língua, há algumas que crêem que é limitada e expressa apenas informações concretas e que não é capaz de transmitir idéias abstratas.
Pesquisas sobre LIBRAS vêm sendo desenvolvidas, mostrando que, esta língua é comparável em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais. Esta língua não é uma forma do português; ao contrário, tem suas próprias estruturas gramaticais, que deve ser aprendida do mesmo modo que outras línguas. A LIBRAS difere das línguas orais por utilizar outro canal comunicativo, isto é, a visão em vez da audição. A LIBRAS é capaz de expressar idéias sutis, complexas e abstratas. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho, moda, etc. A LIBRAS pode expressar poesia e humor. Como outras línguas, a LIBRAS aumenta o vocabulário com novos sinais introduzidos pela comunidade surda em resposta à mudança cultural e tecnológica. (Quadros e Karnopp, 2004)
A LIBRAS não é universal. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo usam línguas de sinais diferentes.
A LIBRAS foi criada e desenvolvida por surdos do Brasil para a comunicação entre eles e existe há tanto tempo quanto a existência das comunidades de surdos. A maior divulgação da língua de sinais no Brasil começou quando foi fundado o Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES) em 1857, chamada, então, de mímica. Sendo o INES a primeira escola para surdos por muitos anos; funcionando em regime de internato, recebia alunos de todas as regiões do Brasil, os quais, ao voltarem para suas cidades, nas férias, difundiam essa língua por todo país. Assim, a LIBRAS difere da língua de sinais de Portugal. Como havia professor que dominava a Língua de Sinais Francesa no INES, na sua fundação, a LIBRAS hoje traz um pouco das características desta língua de sinais francesa e difere da língua de sinais de Portugal, embora os dois países, Brasil e Portugal tenham historicamente dividido a mesma língua oral.
A partir do Congresso em Milão, Itália, em 1880, a filosofia educacional começou a mudar na Europa e, conseqüentemente, em todo mundo. O método combinado que utilizava tanto sinais como o treinamento em língua oral foi substituído em muitas escolas pelo método oral puro, o oralismo. Muitas pessoas acreditavam que a única forma possível para que as crianças surdas se integrassem ao mundo dos ouvintes seria falar e ler os lábios. E assim muitas escolas passaram a insistir com os alunos surdos para que entendessem a língua oral e aprendessem a falar. Os professores surdos já existentes nas escolas, naquela época, foram afastados, e os alunos desestimulados a usarem a língua de sinais (mímica), tanto dentro quanto fora da sala de aula. Era comum a prática de amarrar as mãos das crianças para impedi-las de fazer sinais. Isso aconteceu também no Brasil. Mas apesar dessas tentativas de desestimular o uso da língua de sinais, a LIBRAS continuou sendo a língua preferida da comunidade surda. Os surdos, quando viram que o uso de sinais estava proibido, reconheceram e consideram a LIBRAS como sua língua natural, a qual reflete valores culturais e guarda suas tradições e heranças vivas.

Fonte: Texto extraído do Curso de Graduação em Pedagogia-Licenciatura/Modalidade a Distância - UFGRS.

LIBRAS, Cultura Surda e Comunidade Surda.

A LIBRAS é a língua da comunidade surda brasileira. Tem suas regras gramaticais próprias, possibilitando assim, o desenvolvimento linguístico da pessoa surda, favorecendo o seu acesso aos conhecimentos existentes na sociedade.
Os sinais são formados a partir de parâmetros, como a combinação do movimento das mãos com um determinado formato num determinado lugar, podendo este lugar, ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo.

Os parâmetros da LIBRAS são:

- Configuração das mãos;
- Locação;
- Movimentos;
- Orientação das mãos;
- Expressão facial e/ou corporal.

Nesta combinação se obtém o sinal. Portanto, produzir sinais é combinar esses parâmetros para a formação das frases e textos num determinado contexto.

Há uma grande confusão e discussão em torno da aceitação ou não da LIBRAS por alguns ouvintes, devido às influências e preconceitos sociais, mas pode-se verificar alguns pontos importantes que devem ser considerados:

- A LIBRAS é a língua das comunidades surdas: foi criada e é usada pelos surdos no Brasil;
- O desenvolvimento lingüístico, cognitivo, afetivo, sociocultural e acadêmico não dependem da audição, mas sim da aquisição e desenvolvimento da língua de sinais;
- A LIBRAS propicia o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da criança surda, favorecendo a produção escrita, servindo de apoio para a leitura e compreensão dos textos.


Fonte: Texto extraído do Curso de Graduação em Pedagogia-Licenciatura/Modalidade a Distância - UFGRS.